2009-05-25

O velhote (VI)

Lado a lado, de mãos dadas iniciaram a caminhada até ao lago, a distância era pequena, mas transformada numa pequena maratona pela solidez da idade que cada um deles carregava, no entanto eles não sentiam esse peso, pois a ajuda-los tinham um par de asas que aliviava qualquer peso que algum deles pudesse sentir, eram as asas feitas daquele material que nenhum homem por mais inteligente que fosse conseguia reproduzir, que nenhuma mulher por maior que fosse o seu coração conseguiria perpetuar, as asas eram feitas daquele material enigmático que só ganha vida pelo acto de fé que existe entre corações que só parecem ter vida se dividirem os batimentos.

Enquanto caminham ela diz: - Diz-me! (Com o tempo ela aprendeu a fazer perguntas! Isto não é nada de extraordinário em qualquer relacionamento, não é nada de estranho em qualquer relação recente, mas o tempo… o tempo parece apagar a importância das perguntas, o tempo parece fazer acreditar que já se sabe tudo, que já não há mais nada para descobrir, o tempo encontra sempre forma de testar qualquer relacionamento na quantidade de perguntas que se mantém ou diminui, quando se continua a perguntar, continua-se a acreditar, quando se deixa de perguntar a ausência de progressão estabelece-se).

- Lembraste há muitos anos atrás, de me dizeres que já não precisavas de mim? Que tinhas aprendido a viver sem mim, mas que tinhas optado por continuar a amar-me, que era essa a tua vontade. Como é possível, amares-me tanto e não precisares de mim? Perguntou ela.

Tinha sido verdade, ele tinha dito essas palavras, e embora não parecessem fazer sentido ele sabia que eram verdadeiras, e embora não fosse fácil, tinha de tentar mostrar-lhe o que significavam. Então ele disse: -Existem muitas razões para se amar alguém, e uma delas passa pela “necessidade”… a necessidade de sentir amor no coração, esse vazio em geral é sempre preenchido por alguém, pela necessidade de sentir que existe um sentido para esta vida, ter alguém ao lado que nos faça sentir especiais dá outro sentido à vida, pela necessidade que temos de partilhar, pela necessidade de um abraço, pela necessidade se sentir o calor de outro corpo, pela necessidade de combater a solidão, pela necessidade segurar a mão de alguém sempre que algum tipo de medo ensombra a vida… ter alguém que preencha estas necessidades é o que consciente ou inconsciente nos faz amar esse alguém, é a tendência natural, amarmos quem nos ama, amar quem fica ao nosso lado. Eu aprendi a prescindir destas necessidades para puder continuar a amar-te, como não estavas a meu lado, tive de prescindir de precisar de ti, para puder continuar a amar-te...

Lembras-te daquela frase que um dia li e que me fez alguma confusão “Não se troca o amor pela pessoa amada”?

- Sim. Responde ela. Então ele continua: - Não sei se a percebes bem, o que esta frase diz é que muitos corações desistem do amor para conseguirem continuar a amar “uma determinada pessoa”, aquela pessoa que dá conforto à maioria das necessidades que têm. Eu não troquei, eu optei por manter os dois, o Amor e continuar a Amar-te, mas para isso tive que aprender a não precisar de ti. Preferi continuar a sentir o Amor e a sentir-te a Ti.

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