2009-05-05

O velhote (III)


Caminha agora com toda a calma, sem pressas, pois embora não a esteja a ver consegue sentir em cada átomo do seu corpo a vida que naquele momento existe naquela sala, a vida que sabe brotar dela. Procura posicionar-se no horizonte de vista dela, para que saiba que ele chegou, que a aguarda. Através daqueles arco-íris de robes, os olhares de ambos conseguem encontrar-se, e sem que ninguém perceba pois ela tem também o talento de emanar diferentes emoções para várias pessoas ao mesmo tempo, os olhos dela iluminam-se para ele, e por uns instantes todas as dores do corpo desaparecem, todas as pequenas preocupações são reduzidas a nada, e ainda a saborear as ondas de se ter apaixonado uma vez mais por ela, há uns instantes atrás, sabe que uma nova vaga dessas ondas está a caminho.

Imóvel, junto à porta que os levará até ao lago ele observa como a improbabilidade da vida se revela uma vez mais. É para um grupo de idosos que olha, mas o que vê são jovens corações a pular de vida, como se uma qualquer alma bondosa estivesse a distribuir doces a crianças que raramente sentiram o seu sabor. A vida é extraordinária, ela é extraordinariamente linda, e ele um abençoada por através dela conseguir ver os sorrisos que a vida insiste em mostrar, todos os dias, das mais variadas formas, a quem tiver aberto o coração para os ver.

Ele nota que não está a ser fácil para ela fazer com que a deixem ir… ter com ele, e por uns instantes observa algumas das bengalas que abundam naquela sala, e começa a imaginar o que aconteceria se ele as usasse para abrir caminho… mas não, essa não era a forma dele ser, nunca o foi. Ele nunca se impôs, nunca quis impor nada na vida dela, ele amava-a da forma que melhor sabia, da única forma que sabia que se deixaria amar, “pelo significado da palavra em si”, amar porque é isso o que o coração deseja, sem imposições, sem medos, sem comparações, sem projecções, sem restrições, sem orgulhos, sem vaidades, sem impaciência, sem ciúme, sem mentiras, sem mas de qualquer espécie e mesmo sem retribuição, pois ele senil como por vezes parece ser, continua a acreditar que o amar existe por si só, transcende a necessidade de ser amado. Mas qualquer destes argumentos está a mais, pois amá-la é algo que ele sempre fez naturalmente, como que se não existisse qualquer alternativa, como respirar… sim, a vida uma vez mais mostra a sua face, era tão simples como isso, respirar e amá-la, foi o que ele sempre mais precisou para viver!

2009-05-03

O velhote (II)

Após revirar o quarto à procura da pantufa certa, ele lá a encontra, e agora todo equipado com robe e pantufas da mesma tonalidade, não perde mais um segundo, imediatamente inicia a volta para junto dela numa “Marcha atlética” (um correr sem correr). Sorri para si mesmo pois está a conseguir manter um bom ritmo, em trinta segundos já chegou a metade do percurso, mais trinta e chegará à sua meta, ao seu destino, ao seu lar, chegaria a ela. “Ela”, essa palavra sempre foi o suficiente para ele em todos os momentos decisivos, “Ela”, essa palavra sempre esteve com ele de uma forma ou de outra no caminhar diário pela vida, assim como estava prestes a estar naquele preciso momento, pois um instante de distracção com “Ela” e foi o suficiente para tropeçar numa das pantufas, o que o fez cambalear ao longo de três passos directo para os braços da nova enfermeira. Sorte de ambos, ela tinha tanto de simpatia como de robustez. Ela tinha chegado há uma semana, ainda não o conhecia, ainda não conhecia a paixão dele por “Ela”, a única coisa que a enfermeira tinha reparado é que ele andava sempre a correr, e após este choque com ela, e depois de o ajudar a recompor a simpática enfermeira diz-lhe calmamente: - Tenho reparado que você anda sempre a correr, se calhar seria melhor não beber tantos líquidos, assim não teria de correr tantas vezes para o WC! Ele tenta conciliar o pensamento de amaldiçoar uma vez mais o raio da pantufa, com os 43 segundos que acabou de perder, com um: - Claro, claro, que devolve à simpática enfermeira, não tem tempo para lhe explicar que não é para o WC que corre, mas sim para algo mais importante, o seu mundo!

Para não correr mais riscos, para não perder mais um segundo desnecessariamente, procura inspirar-se no caminhar dela, calmo, altivo, atento, constante, que sempre a levou até onde ela sempre quis. Resultou e eis que finalmente chega à sala comum. Por uns instantes o seu coração sofre novamente uma alteração cardíaca, desta vez não por a ver, mas sim por a não ver. Tirando um grupo de idosos que parece muito animado num canto da sala, ela não está! Ele já passou por isto muitas vezes, de correr para ela e quando lá chega ela não está, ele aprendeu a encontra-la, ele sabe que tem de fechar os olhos, sabe que para a encontrar tem de sentir onde ela se encontra.

Por vezes a vida parece revela-se inexplicavelmente simples, por vezes deixa-se ver sem qualquer tipo de mistério, a todos aqueles que sabem o que procuram e como o devem procurar.

Mal ele fechou os olhos, soube onde ela estava, soube que ela continua onde sempre esteve, perto dele. Era tão óbvio, ela estava ali mesmo, naquela mesma sala… ela era o centro de atenção daquele entusiástico grupo de idosos, devia ter percebido logo, um grupo animado daqueles é coisa rara naquele sítio. Ele continuava a não conseguir vê-la pois existiam pessoas entre eles, mas sabia que era ali que estava, bastava ouvir o sonoro cantar da voz de vida que emanava daquele entusiástico grupo de idosos, ele sabia muito bem o que os estava a fazer cantar daquela forma.

E dessa forma invulgar, a olhar para traseiros de robes de todas as cores… ele apaixona-se uma vez mais por Ela.

2009-05-02

O velhote (I)

Espera ansiosamente na sala comum daquele lar. Aquele lar que ambos imediatamente concordaram que tinha de ser aquele quando o viram pela primeira vez. Tinha nos jardins aquela paz que ela gostava de sentir para melhor por em palavras os mares de sentimentos que sempre viveram com ela, os mares de sentimentos que faziam limpar a alma a todos os que tinha oportunidade de os vislumbrar. Tinha também o lago, que ele dizia gostar de olhar pois trazia-lhe paz, mas na verdade era mais um desculpa dele, para ela não perceber que pelo canto do olho, a paz vinha de estar a vê-la. Ela percebia os pequenos truques dele, mas não se importava, pois apesar de lhe ter dito muitas vezes que não era nada de especial, sempre soube que por alguma razão ele sempre sentiu paz a olhar para ela, mesmo agora que a sua face tinha as marcas do tempo, ela sabia pelos olhos dele que continuava lindíssima. Estava a ficar caquéctico pensava ela por vezes, numa tentativa de tentar perceber aquele fascínio, mas as pessoas assim não conseguem ser coerentes, e ele era-o com ela!

Uma hora depois ela surge no corredor, embora com algumas dores de costas e de pernas não deixa que isso impeça o seu andar altivo, nem que esconda o seu sorrir para as pessoas com quem se cruza. Prestes a sentir que está a ter um pequeno ataque de coração, resmunga consigo próprio nestas palavras: “ò velhote, vê se te acalmas, tens quase oitenta anos, já tens boa idade para saber controlar a ansiedade que sentiste a primeira vez que soubeste que era Ela”.

Ao chegar a ele, baixa ligeiramente a cabeça, e por cima dos óculos que usa, ilumina-lo como sempre faz com aquele doce olhar. Apesar dela se manter imóvel, ele percebe que ela abana ligeiramente a cabeça com um ligeiro sorriso paciente enquanto parece pensar “ai,ai, que vou fazer contigo!”. Que fez ele desta vez, fica a pensar! Então ela diz-lhe: - Sabes que adoro azul, mas podias ter trazido as pantufas com a mesma cor de azul! Novamente.. Não.., resmunga ele para si mesmo, na pressa de ir ter com ela, trocou as pantufas. - Espera um momento por favor diz-lhe, volto já. E com o cinto do robe a arrastar pelo chão, vai o mais rápido que pode ao quarto, trocar uma das pantufas, enquanto que, prático como é pensa “vou despachar um par de pantufas, e comprar mais três pares da mesma tonalidade, pois não posso perder mais tempo a estar sem ela para andar atrás das pantufas… e já agora será que troquei a fralda?”.

2009-04-30

Demoraste muito!


Ele termina de colocar os talheres que faltavam, e espera por ela que traz o jantar. Assim que chega, ambos se sentam ao mesmo tempo. Atenta como é a todos os pormenores diz-lhe em tom de gracejo:
- Continuas um aluado, onde está a colher do arroz?
Ele encolhe os ombros e sem falar pede-lhe desculpa com um sorriso. Ela levanta-se e caminha em direcção à cozinha para ir buscar o que falta, e mesmo em fato de treino, caminha com a mesma elegância que demonstraria se usasse o seu melhor vestido ao percorrer corredores repletos de alunos. Enquanto observa aquele “flutuar”, fica a pensar: “se ela soubesse o quanto é difícil estar atento ao mundo, sempre que ela está por perto!”, mas acaba por tomar consciência uma vez mais, que tem de continuar a tentar.

Uns trinta segundos depois ela volta, e enquanto se senta ele observa:
- Demoraste muito!
Franzindo muito subtilmente uma das sobrancelhas (é o que ela costuma fazer, sempre que ele diz coisas sem nexo, e ela fica a tentar descobrir em que mundo pára ele desta vez)
Ai sim! E então porquê? Diz ela a sorrir.
Não sei explicar, só sinto que demoraste muito. Responde. Ao qual ela calmamente comenta:
Estiveste anos sem estar junto a mim, pensei que já te tinhas habituado às minhas “ausências”!
Então ele diz-lhe:
- Minha querida, nunca me habituei a estar sem ti, simplesmente aprendi a conseguir faze-lo. Sim, desde de que tiveste de ir, comecei por contar em segundos e terminei em anos, mas como sabes o tempo é relativo quando é o coração que o sente. Para uns uma vida inteira não chega, porque não encontraram, para outros um segundo é demais porque encontraram, para mim o tempo tem o teu nome... O tempo que demoraste a ir e voltar da cozinha, foi exactamente o mesmo que decorreu ao longo dos anos que se passaram desde do nosso último jantar, demoraram o tempo do mesmo instante, em que senti “demoraste muito”!

O vôo da renovação


A História da Águia é bem conhecida, mas vale a pena uma constante reflexão.

A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.

Nessa idade, suas unhas estão compridas e flexíveis. Não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.

Nesse momento crucial de sua vida a águia tem duas alternativas: não fazer nada e morrer, ou enfrentar um dolorido processo de renovação que se estenderá por 150 dias.

A nossa águia decidiu enfrentar o desafio. Ela voa para o alto de uma montanha e recolhe-se em um ninho próximo a um paredão, onde não precisará voar. Aí, ela começa a bater com o bico na rocha até conseguir arrancá-lo. Depois, a águia espera nascer um novo bico, com o qual vai arrancar as velhas unhas. Quando as novas unhas começarem a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. Só após cinco meses ela pode sair para o vôo de renovação e viver mais 30 anos.

Em nossa vida, muitas vezes, temos de nos resguardar por algum tempo e começar um processo de renovação. Para que continuemos a voar um vôo de vitória, devemos nos desprender de lembranças, costumes e outras tradições que nos causaram dor.
Somente livres do peso do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz.

- Conteudo retirado da Internet

2009-04-29

O Chamamento


Aluado como é, ele não percebeu de imediato o que estava a acontecer. Porque razão todo o mundo físico que o rodeava se desvanecia tal como fumo lançado ao vento! Foi necessário mais um batimento do coração para que ele percebesse porque é que as nuvens eram agora o seu chão, porque razão teve de mudar a direcção daquela força que o puxava para não mergulhar no plasma do sol, e ainda mal recomposto do susto, porque teve de fazer nova mudança de direcção para evitar uma cabeçada com a lua… Suspenso no vácuo, rodeado por mares de estrelas, ele procurou a mão de Deus. Pensou que só ela teria a força para o retirar do mundo daquela forma. O tempo parou, assim como todos os mares de vida em seu redor, e no mesmo instante todos os sons que emanavam desses mares. Nesse silêncio absoluto, ele ouve um meigo chamamento de vida, sussurra numa leve batida, que aos poucos foi crescendo, que aos poucos ia preenchendo aquele infinito de silêncio, que aos poucos se tornou tão sonoro, tão intenso, tão forte que rebentou numa imensurável onda de choque que fez ressuscitar todos aqueles mares adormecidos de vida! Era o seu coração, ainda batia e estava a falar para ele... Se o coração ainda batia, então não poderia ter sido Deus que o tinha chamado! Foi então que soube:

“Ela” estava a chamar por ele!

E sem que nada mais o conseguisse deter, antes de deixar que um novo batimento tivesse início, ele tinha partido e tinha chegado, e nesse mesmo instante

“Ela sentiu a presença dele...”

Parada, suspensa, e sem mexer os lábios ela sorriu. Sim, sorriu aquele sorriso que tantas vezes fez com que o sol, fosse, sedento ter com ele.. sedento de quê? Nem ele nem o Sol chegaram a descobrir, só sabiam que era a ele que o Sol procurava sempre que ela sorria, e era o Sol que ele procurava sempre que sentia que ela precisava de sentir o calor do sorriso dele.

Ela sorria por ele ter chegado, por saber que ele chegaria, por ter visto a viagem atabalhoada que ele percorreu para chegar até ela. O Sol e a Lua sempre foram os seus mensageiros, e ele quase que se esbarra contra ambos. Elegância nasceu com ela, ele continua a levar os astros à frente sempre que tenta aprender a fazer-lhe uma vénia sem tropeçar! Mas é assim a existência desse amor que o puxou, suave como a delicadeza do movimento de uma vénia, e forte o suficiente para tirar qualquer entidade astral da sua orbita.

Tinha deixado para trás: constelações, universos, o sol e a lua para estar com ela. Mas nada disso importava pois eles existiam onde quer que ela estivesse, ela era o centro, e tudo o resto orbitava à sua volta, inclusive o mundo secreto dele, o mundo onde as mãos dela sempre estiveram unidas às dele, com naturalidade, sem tremor, sem nervosismo, sem hesitar, o mundo que ele encheu de oceanos por saber o quanto eles a acalmavam, repleto de desertos, para que ela nunca esquecesse que ele atravessaria qualquer um deles para estar junto a ela, repleto de rosas para deleite dela mas (só este) mais para deleite dele… para se deliciar ao Vê-la sorrir ao olhar para elas, e é claro que também lá foi colocado o sol dela e a lua dele, assim como os lagos, e um único banco, aquele onde ele sempre conversou com ela enquanto ela estava a caminho desse mundo, aquele onde eles agora sem falar.. comunicam.

Um batimento de coração, uma procura de Deus, uma travessia pelas galáxias, uma quase queimadura do sol, e uma quase cabeçada com a lua, foi o simples caminho que ele percorreu para chegar até ela… até ao mundo que ele criou para ela, agora colorido com todas as formas de vida, porque ela chegou!

Foi ela que o levou a percorrer o próprio mundo dele, o mundo que na verdade só existe porque ela existe. E como foi essa viagem? Foi exactamente como as palavras dela a descreveram…

2009-04-23

Damn

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Lyrics to Anymore

Now..I have see
that..I'm not free
Anymore..without You
Anymore..now I'm Free
On this road..with my soul
On this road..I want be

Anymore..Without You
Anymore..Now I'm Free
On this road..with my soul
On this road..with You

In the Look,when light of dark
I stil's eyed my dreams
Sorry-me in the distance,
the shadows in the air

Look on her and hide my peace
All my only smile
Sometimes I belive that's
the way of we in this mind
Is
I'd never wait for her
I'd never been for we

I'm not it
Anymore..Without You
Anymore..Now I'm Free
On this road..with my soul
On this road..with You
Anymore..Without You
Anymore
Now I'm Free

2009-04-15

Never Give All The Heart

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Never give all the heart, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passionate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that’s lovely is
But a brief, dreamy. Kind delight.
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If deaf and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost.

- William Butler Yeats

O Regresso da Lua

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Noite e luar
eu queria cantar
Vamos embora que ainda crece
vamos tentar
Deixa a dor que voce
Leva dentro que tem
Lembra de nos, meu bem,
vamos juntos a cantar

Noite e luar
eu queria saber
Onde estava a vida sem
Voce ao lado meu
Tudo era tao frio
E voce aconteceu
Perto de mim ,meu bem
Vamos juntos a cantar

Deixa la a dor
Tudo va acontecer
Eu preciso perdao
Deixa as duvidas vem
Deixa la amor
Tenho beijos na mao
Eu preciso perdao
eu te quero pra mim

Noite e luar
eu queria cantar
Vamos embora que ainda crece
vamos tentar
Deixa a dor que voce
Leva dentro que tem
Lembra de nos, meu bem,
vamos juntos a cantar

(Patrizia Laquidara, Paolo Buonvino e Mirco aistro. From the movie "Manuale d'amore")

2009-04-14

O Regresso do Sol

«Durante todo aquele Inverno a cega ficou dentro de casa a maior parte do tempo, esperando que o rigor do tempo passasse um pouco…ali vivia sozinha.

Naquela manhã de Abril o frio ficou mais ameno e ela apercebeu-se do perfume estimulante da primavera. Seus ouvidos escutaram o canto alegre de um passarinho do outro lado da janela como que a convidasse para dar um passeio fora de casa.

Preparou-se, pegou na bengala e saiu. Na rua voltou o rosto para o sol, sorrindo agradeceu-lhe o seu calor e a promessa de dias mais quentes.

Caminhou tranquila sorridente pela rua sem saída, ouviu a voz da vizinha oferecendo-lhe boleia, agradeceu mas suas pernas precisavam de andar, todo o Inverno estiveram descansando.

Ao chegar à esquina ela esperou, como sempre fazia, que alguém se aproximasse e a ajudasse quando o sinal ficasse verde.

Os segundos pareceram uma eternidade… ninguém aparecia. Ela percebia muito bem o ruído nervoso dos carros passando correndo como se tivessem que levar seus ocupantes a algum lugar muito depressa.

Por um momento sentiu-se sozinha, desprotegida e para afastar essa sensação começou a cantarolar uma canção de boas vindas à primavera que naquele momento lhe veio à memória, canção que aprendera na escola quando criança.

Eis, que uma voz masculina bem modulada se lhe dirigiu “você parece um ser humano muito alegre… posso ter o prazer da sua companhia para atravessar a rua?”

Ela fez que sim coma cabeça, seu sorriso voltou enquanto murmurava ao mesmo tempo um “sim”.

Delicadamente, ele segurou o braço dela. Enquanto atravessaram devagar, conversaram sobre o tempo e como era bom, estar vivo num dia daqueles.

Como andavam no mesmo passo, era difícil distinguir quem era o guia e quem era o guiado.

Mal chegaram ao outro lado da rua ouviram as buzinadelas impacientes dos automobilistas. Deve ser mudança de sinal, pensaram.

Ela voltou-se para o cavalheiro, abriu a boca para lhe agradecer a ajuda e companhia, mas já ele estava falando “Não sei se percebe como é gratificante encontrar uma pessoa tão bem disposta para acompanhar um cego como eu, a atravessar a rua”

- Baseado no livro Pequenos Milagres – Yitta Halberstam e Judith leventhal, ed. Sextante, págs. 36/37

2009-04-10

For those who "Know"

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I choose to hide
But I look for you all the time
I choose to run
But I'm begging for you to come
I wanna break
But I know that you can take
I stay a while
To be sure that you're by my side
Oh, oh

Don't look at me, just look inside
Cause I can go through
Tell me, are you goin' tired
Of what I don't do
I wanna see, I wanna fight
Cause I don't feel scared
Honey, if you care

I choose to find
Things that you left behind
I choose to stare
But I can take you anywhere
I wanna stay
But my soul leaves you anyway
Can close the door
And love, could you give me more

Don't look at me, just look inside
Cause I can go through
Tell me, are you goin' tired
Of what I don't do
I wanna see, I wanna fight
Cause I don't feel scared
Honey, if you care

Choose love, choose love, love
Choose love, choose love, oh

Don't wanna hear, I wanna fight
Cause this time I won't be wrong
And I can waste this precious time
Asking where do I belong
So let me know your love is real
Cause this time you won't control
Tell me please, what do you feel
Do I have to save your soul

Choose love, choose love, love...

2009-04-08

Pedras no Caminho?

“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta...

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo."

- Fernando Pessoa

2009-03-31

Fragile

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If blood will flow when flesh and steel are one
Drying in the colour of the evening sun
Tomorrow's rain will wash the stains away
But something in our minds will always stay

Perhaps this final act was meant
To clinch a lifetime's argument
That nothing comes from violence
And nothing ever could
For all those born beneath an angry star
Lest we forget how fragile we are

And on and on the rain will fall
Like tears from a star
Like tears from a star
And on and on the rain will say
How fragile we are
How fragile we are..

2009-03-19

Kahlil Gibran

Each and every one of us, dear Mary, 
must have a resting place somewhere.
The resting place of my soul is a beautiful grove 
where my knowledge of you lives.
(Extract from one of Gibran's letters dated 8th November 1908)

I realized that all the trouble 
I ever had about you 
came from some smallness or fear in myself.
(Extract from Mary Haskell's journal dated 12th June 1912)

2009-03-09

[Raio de Lua]

Recordo como sol sempre me aqueceu,
No entanto raramente senti o seu embalo.
Lembro bem como lua sempre me iluminou,
Mas excepcionalmente sentia o seu fascínio.
Sim, o sorrir sempre me acompanhou, quase instintivamente,
Assim como o simples bater de asas de um qualquer pássaro livre.
Também as palavras sempre brotaram de mim.
Da mesma forma que uma fonte jorra gotas de água,
Naturalmente e frias.

Agora já não é assim!

Rasgando pelas trevas do mundo,
Despedaçando qualquer fragmento de escuridão do meu ser,
Ele invoca o meu espírito, para mais uma jornada.
Embalado pelo seu calor, desperto não só para o dia,
Ressuscito para a vida que vou viver nesse dia.
É desta forma encantada que o sol agora se declara todos os dias.
E embalado por ele, respiro cada segundo de vida.
Até que…

Saudoso por ter de me deixar, liberta-me ao descoberto da noite.
E assim ficamos, em paz, enquanto se afasta, a contemplar-nos em silêncio.
Como só acontece com os seres que se conhecem desde de sempre.
Como duas almas que já não necessitam de palavras,
Pois existem não separadas, mas sim numa alma maior!
É neste limbo que vivo com a ausência do sol.
Até que…

Rasgando pelas trevas da noite,
Iluminando de vida todos os recantos de mim.
Ela seduz todos os meus sentidos para mais uma aventura.
Enfeitiçado pelo seu encanto, apresso-me a seguir o meu espírito,
Que velozmente me deixou, para cavalgar uma doidice desenfreada.
Quer sentir todos e cada um dos seus raio>s de luz.
É desta forma alucinante, que a Lua se revela uma vez mais.
E fascinado por ela, vivo cada segundo de vida.
Até que…

Por vezes o tempo é generoso.
Permite que a lua chegue antes do sol partir.
E ao primeiro chamamento dos dois,
Liberto-me da minha dimensão terrena,
Para a eles me juntar.
E numa ansiedade infantil,
Assim ficamos os três, à espera!
Até que…

Começo a sentir,
Como o Sol transborda todos os limites o seu ardor,
Como a Lua extravasa todas as fronteiras do seu esplendor.
E por uns instantes perco os dois de vista,
Tal é a intensidade da força de alma que emitem!

E sabes porque?

Tu chegaste...
È a veemência de Ti que agora nos abraça.
E nesse instante delicioso,
Tu és a Lua, e o Sol, e a Luz, e o Calor, e o Embalo.
E nós… nós somos três simples pontos nesta obra mística,
Preenchida pela imagem de ti!

Não consigo evitar de sorrir para o Sol e para a Lua,
De ver como suspiram pelas sensações que lhes trazes!
Ponho a minha mão no sol, para o acalmar.
Passo-a pela face da lua, para a serenar.
E num sussurro, digo a ambos:
- “Eu sei”!

Inebriados de ti,
Ainda conseguem dar-me um último sinal de compreensão.
E mesmo antes de se adunarem uma vez mais,
Ambos respondem ainda incrédulos:
- É assim, sempre que ela aparece… e nunca o consegue evitar!

Sorrio agora para ti, enquanto os meus olhos dizem aos teus:
- Acontece o mesmo comigo, e não consegues evitá-lo!