2009-04-29

O Chamamento


Aluado como é, ele não percebeu de imediato o que estava a acontecer. Porque razão todo o mundo físico que o rodeava se desvanecia tal como fumo lançado ao vento! Foi necessário mais um batimento do coração para que ele percebesse porque é que as nuvens eram agora o seu chão, porque razão teve de mudar a direcção daquela força que o puxava para não mergulhar no plasma do sol, e ainda mal recomposto do susto, porque teve de fazer nova mudança de direcção para evitar uma cabeçada com a lua… Suspenso no vácuo, rodeado por mares de estrelas, ele procurou a mão de Deus. Pensou que só ela teria a força para o retirar do mundo daquela forma. O tempo parou, assim como todos os mares de vida em seu redor, e no mesmo instante todos os sons que emanavam desses mares. Nesse silêncio absoluto, ele ouve um meigo chamamento de vida, sussurra numa leve batida, que aos poucos foi crescendo, que aos poucos ia preenchendo aquele infinito de silêncio, que aos poucos se tornou tão sonoro, tão intenso, tão forte que rebentou numa imensurável onda de choque que fez ressuscitar todos aqueles mares adormecidos de vida! Era o seu coração, ainda batia e estava a falar para ele... Se o coração ainda batia, então não poderia ter sido Deus que o tinha chamado! Foi então que soube:

“Ela” estava a chamar por ele!

E sem que nada mais o conseguisse deter, antes de deixar que um novo batimento tivesse início, ele tinha partido e tinha chegado, e nesse mesmo instante

“Ela sentiu a presença dele...”

Parada, suspensa, e sem mexer os lábios ela sorriu. Sim, sorriu aquele sorriso que tantas vezes fez com que o sol, fosse, sedento ter com ele.. sedento de quê? Nem ele nem o Sol chegaram a descobrir, só sabiam que era a ele que o Sol procurava sempre que ela sorria, e era o Sol que ele procurava sempre que sentia que ela precisava de sentir o calor do sorriso dele.

Ela sorria por ele ter chegado, por saber que ele chegaria, por ter visto a viagem atabalhoada que ele percorreu para chegar até ela. O Sol e a Lua sempre foram os seus mensageiros, e ele quase que se esbarra contra ambos. Elegância nasceu com ela, ele continua a levar os astros à frente sempre que tenta aprender a fazer-lhe uma vénia sem tropeçar! Mas é assim a existência desse amor que o puxou, suave como a delicadeza do movimento de uma vénia, e forte o suficiente para tirar qualquer entidade astral da sua orbita.

Tinha deixado para trás: constelações, universos, o sol e a lua para estar com ela. Mas nada disso importava pois eles existiam onde quer que ela estivesse, ela era o centro, e tudo o resto orbitava à sua volta, inclusive o mundo secreto dele, o mundo onde as mãos dela sempre estiveram unidas às dele, com naturalidade, sem tremor, sem nervosismo, sem hesitar, o mundo que ele encheu de oceanos por saber o quanto eles a acalmavam, repleto de desertos, para que ela nunca esquecesse que ele atravessaria qualquer um deles para estar junto a ela, repleto de rosas para deleite dela mas (só este) mais para deleite dele… para se deliciar ao Vê-la sorrir ao olhar para elas, e é claro que também lá foi colocado o sol dela e a lua dele, assim como os lagos, e um único banco, aquele onde ele sempre conversou com ela enquanto ela estava a caminho desse mundo, aquele onde eles agora sem falar.. comunicam.

Um batimento de coração, uma procura de Deus, uma travessia pelas galáxias, uma quase queimadura do sol, e uma quase cabeçada com a lua, foi o simples caminho que ele percorreu para chegar até ela… até ao mundo que ele criou para ela, agora colorido com todas as formas de vida, porque ela chegou!

Foi ela que o levou a percorrer o próprio mundo dele, o mundo que na verdade só existe porque ela existe. E como foi essa viagem? Foi exactamente como as palavras dela a descreveram…

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