2009-07-13

Viagem


Respirar, é com este instintivo acto natural que iniciamos o viver neste mundo, é deste simples acto que dependera a longevidade da nossa estadia. Ao nascer já estamos munidos de alguns sentidos, como o tacto, o olfacto o que nos permitiu reconhecer de forma imediata o cheiro tranquilizante da mãe, o ouvir que nos permitiu identificar a voz dos pais, assim como o sentido de paladar. Após algum tempo em que os olhitos do pequeno bebé vagueiam errantemente perante tudo o que lhe aparece à frente, aprendem a focar, e com um olhar desmedido começam a ter as primeiras percepções visuais do mundo que o rodeia. Após passar pela fase de rastejar, de gatinhar, de cair muitas vezes, aprende com passos iniciais muito trémulos a caminhar.

Com o passar do tempo cada sentido passará por evoluções significativas, o tacto aprenderá a reconhecer diferentes superfícies, os diferentes tipos de calor humano que estão em cada toque de mão, em cada abraço em cada beijo, o olfacto aprenderá a reconhecer imensos aromas diferentes, a capacidade de ouvir também sofrerá imensas alterações, pois o som é de alguma forma omnipresente neste mundo, seja proveniente de pessoas, animais ou outros seres, seja da natureza, a capacidade de ouvir no seu limite conseguirá entender a voz do silencio.

O limite que cada uma dessas formas de sentir parece difícil de definir, pois existem pessoas que pouco evoluíram esses sentidos além do básico, existem outras que podem passar anos sem qualquer evolução e de um momento para o outro podem aprender por eles próprios ou por alguém uma nova forma de ver, de ouvir, de sentir ou de se expressar fisicamente que poderá alterar significativamente a sua forma de ver o mundo e de viver, por ultimo existem as pessoas que estão constantemente a testar os limites dos seus sentidos, e são esses os que melhor sabem que após uma vida inteira de aprendizagem ainda teriam muito para aprender.

E o Amar! Em que molde esta forma de sentir no coração se coaduna com os outros “sentires”? De que forma a evolução deste "sentir" se concilia com os outros? É inato? Aprende-se? Evolui? Muda? Ou simplesmente é algo que está lá, para se sentir ou não? Pondo de parte o amar maternal, o senso comum aponta um inicio, parece dizer que existem muitos factores que fazem despertar este sentimento, assim como existem outros tantos que o fazem adormecer. Além deste facto o amar tem outra característica, é composto por várias dualidades: entre o que se sente e o que se transmite, entre o que dá e o que recebe, entre o que é e o que é esperado que seja, entre o que muda e o que mantém inalterado.

O que o torna diferente dos outros “sentires”, é o facto de ser um sentir que começa num ser e termina num outro ser. Esta particularidade torna-o mais exigente de gerir, precisamente porque abrange dois seres. Para que atinja a sua plenitude não basta que seja suficiente para um, tem de o ser para dois, e é também por este facto que por vezes ele adormece apesar da força que sente em despertar para a vida.

O que faz alguém quando descobre que está a deixar de ver? De ouvir? Ou de sentir paladar? A resposta parece obvia: começa por ir a um médico, e no seguimento disso vai fazer Tudo o possível para evitar esse mal. E o que fazer quando se está a deixar o amor adormecer? Aqui a resposta já não parece tão óbvia, pois a solução encontra-se algures na sintonia das dualidades que o compõem, ou seja: torna-se necessário ajustar o que está bem para um, de forma a que fique bem para os dois. Por vezes isto é facilmente alcançável, por vezes difícil e outras, mesmo impossível, seja como for, a única forma possível para descobrir qual delas é… é não deixar de procurar até que se tenha a certeza. O consenso parece existir unicamente no `Tudo`.

Para que isso se concretize é essencial que ambos Queiram, é essencial que ambos Comuniquem, é essencial que ambos Amem, pois Amar não é o destino, Amar... nasce, aprende-se, manifesta-se, cresce, transforma-se, evolui, atinge a sua plenitude na Viagem
                                                    "Desses Dois"
através de todos os obstáculos da vida!

Aos loucos que ainda acreditam no Amor Puro, e aos lúcidos que sabem da dificuldade em o alcançar, desejo perseverança, pois o Amor também tem esta dualidade: a da loucura e da lucidez.

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