2009-07-15

{ Adeus Miguel }


Miguel, amigo e colega de trabalho respirou ontem pela última vez. Passaram 14 horas e 33 minutos desde de que soube da triste notícia, e desde então os meus pensamentos procuram determinar o que não está a funcionar correctamente na minha mente, pois revê com total clareza de som e imagem os episódios de conversas recentes que tivemos, mas de alguma forma esses episódios assemelham-se mais a sonhos, pois algo oculta a presença dele, tal como acontece nos sonhos, em que pessoas aparecem e desaparecem como se de magia se tratasse, e assim fico com a sensação de ser um passivo espectador de algo que não consigo definir.

O Miguel era acima de tudo um lutador, e por acréscimo um motivador, um líder, um bom profissional, conselheiro, desafiador, persistente, por norma sempre acompanhado de boa disposição apesar do grande stress que sempre o rodeava, brincalhão, e é claro um bom amigo. Era também um filho, um marido e um pai.

Recordo das últimas conversas que tivemos, de me dizer que costumava ser dos primeiros a chegar às empresas (apesar de eu saber que se podia dar ao luxo de chegar mais tarde), das horas tardias que as costumava deixar, de preparar trabalho à noite, de como tinha a preocupação diária de conciliar tudo isso para ter sempre tempo para estar com o filho e com a mulher.

Recordo bem do último jantar de negócios que tivemos, em que no final e a sorrir reforçou o que mais o motivava, o que era mais importante para ele: o filho.

Recordo como de uma forma simples me elucidou sobre o que é um amor de pai, foi com estas palavras:

Se a minha mulher cair no meio da estrada e eu vir um carro a ir contra ela, eu (nesta altura ele encolhe os ombros e abre bem o olhar) atiro-me para a frente do carro, que mais poderia eu fazer? (enquanto olha para mim com olhar interrogativo)!… Mas, se o mesmo acontecesse ao meu filho (e aqui cerra os olhos, e toma uma postura de investida) eu não sei como, mas sei que vou conseguir parar aquele carro!

Percebes? (Perguntou ele no final). Sorri, enquanto automaticamente saiu de mim um gesto afirmativo, ao mesmo tempo pensava: Sim Miguel, acho que entendo.

A minha vida transportará sempre partes da tua, assim como a saudade de ti.
As minhas orações estarão com aqueles que amas.

Morreu contra camião na A7
112 não atendeu chamada urgente

1 comentário:

Filipa disse...

É tudo tão efémero...
Viver, amar, perder quem amamos, continuar vivos, apesar de tudo...
Diz-se, nestas alturas, sempre a mesma coisa, os mesmos clichès...
É dói sempre...